A incerteza e a transitoriedade dessa vida têm me levado a encará-la como uma boa poesia. Para se gostar de um poema não existe fórmula, regra, basta amá-lo. Que ele desperte sentimentos que hibernavam em nós. Que nos arrepie, que nos faça lembrar, sonhar, chorar, suspirar fundo e sentir que conheceu um pouco mais de si e do mundo. Assim também é a música e é assim que devo levar minha vida. Sem desesperos pelos seus desígnios, sensível às oportunidades que nos aparecem, muitas vezes uma única vez. E tudo que mereça minha atenção será vivenciado intensamente.

Ai, vida! Como me desgasta esse abrir-se e – simultaneamente – alivia o peito congestionado. “Nada mais monótono que a sucessão de dias belos” (Goethe).

Ouço o som de Chat Baker. É a medida exata para a dor da nossa distância, para o romantismo de nossa espera, para o desabrochar das flores quando finda o inverno.

Como é importante sentir a vida em cada instante. Viver os momentos como únicos, com os sentimentos à flor da pele. Vago errante por essas estradas, não procuro nas paragens distantes a explicação para o “existir”, pois sei que as respostas, as que estão ao nosso alcance, orbitam muito próximas de nós. Dentro de nós.

Saudades. Sem o desespero dos apaixonados; com a nitidez de um amor maduro. (C.M.)