Ouvindo o som da quadrilha – com direito a banda e palco montados junto à janela da Assessoria de Imprensa, que invadiu o pátio do estacionamento do lugar onde trabalho, sinto que só tenho dois caminhos: sair o mais depressa possível e correr para o conforto do meu quarto (com meu laptop como testemunha), ou tentar abstrair a situação e, de alguma forma, me concentrar nos entorpecentes. Mas como escrever um texto sobre incineração de substâncias que causam dependência, no Dia Mundial de Combate às Drogas, com um fundo musical que não pára de gritar “olha a chuva…preparar para a despedida!” não é muito fácil, volto os olhos para meu monitor e tento encontrar meus pensamentos que estão soltos entre os gritos de “bolo de milho, 1 real”, “canjica, 1 real”! Assim fica difícil realizar os ossos desse ofício! Sim, hoje tem São João no meu trabalho. Mas, vamos lá. Tenho prazo. Deadline!
E com toda essa pressão, o STF achou pouco e nos igualou aos Chefs de Cozinha (nada contra, adoro uma boa gastronomia!), mas tudo tem limite! Num esforço quase desumano, entro num transe quase indiano, e começo a escrever a matéria, que já está atrasada, devido a nossa ida à cobertura da pauta em questão. Sim, passamos a manhã em frente ao forno de uma fábrica em Igarassu. Bem ali…
Vou seguindo minha intuição, pois a essa altura dos acontecimentos, já não sei mais o que estou escrevendo, e meus pensamentos se misturam com o som da sanfona, as vozes estridentes de uma felicidade que beira a catarse, e do forró, que descamba para o ‘brega’, entre outros ritmos alucinantes.
Após alguns momentos de sofrimento e de procura pelas palavras corretas, consigo aprumar meu juízo e finalizo o texto. Olho para o relógio, já são 17h. Percebo que passei o dia escrevendo e não tenho ânimo para mais nada. É quando me lembro que ainda tenho uma aula para enfrentar! Quem mandou inventar de se ocupar tanto? Pra quê pós-graduação num país que nem reconhece mais o meu diploma? “Anarriê”! Despeço-me dos colegas e sigo para meu terceiro turno…