sexta-feira, 4 de setembro de 2009

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Fragmentos de ‘Colcha de Retalhos’

Dolores começou a sofrer de um mal desconhecido. Foi ficando mofina, definhando, definhando. Foi quando lhe mandaram chamar o médico da família - doutor Hilton - para esclarecer tais sintomas.

_ É mau de amor, Dolores!, disse o doutor com voz suave.
_Eu nunca vi tanta dor, gemeu ela.
Há algum tempo Rafael calou. Dolores rezava, chorava, se envergava diante do seu pranto. Onde estaria seu grande amor que não lhe mandava palavra?
_Para curar essa tristeza, receitou o doutor, somente com muita nobreza e vontade no coração.
E Dolores, resignada, voltou a trabalhar na sua colcha. Haviam tantos retalhos, pedaços de sua história com Rafael. Seu querido homem.
Ela nem sabia por onde começar. Decidiu então, relembrar. Do tempo da troca de olhares, conversas em mesa de bar, filmes no cinema. Do desejo pulsando forte nos dois corações, do namoro suado e de morte, de tanto Dolores amar.
Rafael era companheiro para todas as horas. Na alegria e na tristeza. No amor e no rancor. Rafael não era mesmo desse mundo. E mais uma vez, com agulhas e linhas nas mãos, Dolores começou a desfazer o emaranhado da sua história.
Ninguém entendia que ela havia nascido para viver os extremos. Amar alucinadamente, trabalhar exaustivamente, chorar todas as lágrimas que pudesse produzir. Porém, ela também precisava sentir prazer em tudo que fazia. Desde o trabalho até suas relações amorosas. Ser extremista fazia parte dela. Se não fosse assim, não era Dolores. E era exatamente por isso que ela colocava em cada palavra, mesmo que amargurada, uma gota de amor. Não fosse dessa maneira, a colcha de retalhos jamais teria fim. Tinha que possuir a cor, o cheiro, o gosto, a essência daquela mulher. (C.M., 2005)

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