São 6:45 a.m. Sexta-feira que virou sábado.
Quem não dorme e não tem com quem dividir esse momento tão ‘hiato’, o que faz? Lê um livro, assiste TV, ouve músicas numa FM preferida diretamente do headphone para não acordar as pessoas que cometem a façanha de “deitar e dormir”, ou apenas escreve cartas pra ninguém?
Vácuo, silêncio. Quietude. Solitude. Côncavo hiato. Um vazio. Um buraco. E quatro meses e cinco dias depois, a memória chega depressa - com a força de um tsunami - e invade meu cérebro trazendo com ele, todas as lembranças de uma intensa história. Do começo até o final, com a clareza de quem enxerga o ritmo de um conta-gotas.
Esta é a segunda noite de uma insônia ansiosa e tamanha, que já me fez assistir dois sóis. Estou aprendendo a amanhecer. É uma dor sentida, que alivia com o calor do sol. [Parece que a programação da rádio foi ditada por você. Ouço todas as nossas músicas, que me remetem aos cheiros, sabores, sensações e a certeza absoluta da sua presença. Não lhe vejo, porém sinto e sei que está aqui, bem perto de mim. Sinto agora a mesma segurança que sentia ao seu lado, breves meses atrás. É como se estivéssemos conversando por telepatia. Uma saudade boa, com boas lembranças e a certeza de um amor paupável. E com a convicção de que estará sempre aqui. Flesh and blood. Real.
Não consigo mais chorar. Sua essência é tão forte e impregnada nessas paredes, nesses móveis, em todos os objetos, que esqueço que não dormi e que estou com os olhos abertos e descansados, com uma disposição de quem vai pedalar dez mil voltas ao mundo!
Sinto-me tão acordada, que esqueço momentaneamente a minha cabeça a latejar. Aprendi a conviver com a dor.
Pausa para viajar e lhe encontrar em cada momento de nossas vidas. [Os ruins foram tão poucos, que fiz questão de pular]. Quero seu sorriso e tenho uma dúvida antes já dita em verso: “aonde está você agora além de aqui, dentro de mim”?
Que coisa é essa que machuca o coração e os ossos? Amor, paixão? Então é só sofrimento (e algum poeta disfarçou a tristeza e o peso, mudando seu nome e mascarando a sensação de abandono que tem seu verdadeiro sentido). O amor é um fardo, visto que a vida resume-se a perdas.
Vivemos no vácuo, a procura da superfície, que tem a distância do horizonte e é inalcansável. A vida é um mix de sonho bom e ruim. São todos os sentimentos pesados, porém, alados. Mas agora eu sei que é tudo disfarce. (C.M.)