O que leva uma pessoa a querer se sobressair na multidão? É tão mais fácil ser anônimo! Quando a gente se destaca – positiva ou negativamente – tende a ficar no centro das atenções e, automaticamente, nos tornamos “alvo”.
Conheço algumas pessoas que são assim por vaidade. Elas precisam de alguma forma demonstrar a sua capacidade de auto-afirmação através do crescimento do seu ego. Já outras, não são por vaidade, mas por uma rasteira auto-estima. Essas pessoas se acham tão pouco interessantes, que exigem atenção através de eternos questionamentos públicos. O que se passa por esses cérebros? Quantas sinapses desnecessárias são feitas por minuto, só na tentativa de mostrar o mínimo de uma inteligência burra? Estilo, personalidade forte ou postura diante da vida? Vai saber!
Às vezes começo a me perguntar: serei eu a burra? Nessas situações sinto-me a mais loura das criaturas! E não quero aqui denegrir as lindas mulheres louras que existem na face da terra, longe de mim! Estou apenas me utilizando de uma figura de linguagem (pejorativa, eu sei!), mas de domínio público.
Voltemos à minha eleita da vez. Este ano fui vítima de uma perda quase irreparável. Quase, porque a morte não significa o fim (mas isso é outra coisa). De qualquer modo, esta perda me fez muito mal e, por livre e espontânea pressão familiar, resolvi me ‘ocupar’. Com a ajuda da pressão de uma grande amiga, fui parar numa sala de pós-graduação, à noite. Isto significa que já passei o dia inteiro ralando para pagar as contas no final do mês e, num esforço extra – porém nada impossível – encontro-me nesta situação. Aliás, eu e mais uns 25 colegas de classe.
Quando vejo o cenário que se apresenta na sala de aula, sinto que devo sofrer de algum mal, pois normalmente chego cansada do dia de trabalho, sem muita animação. Devo admitir que sou uma pessoa entediada por natureza. Portanto, comportamento totalmente admissível. Enfim, participo das aulas normalmente, eu acho. Quando elas me interessam especificamente, fico mais animada, que pra mim também é normal para alguém com o meu perfil. Considero-me uma pessoa normal, dentro da média (pelo menos eu pensava assim há uns meses). Não sou tímida e nem poderia, visto que escolhi uma profissão que não combina com esse jeito de ser.
Bem, hoje resolvi desabafar. Dividir esta angústia que sinto quando uma das alunas começa a questionar tudo e todos os assuntos abordados pelos professores. Detalhe importante: isso acontece em TODAS as cadeiras pelas quais teremos que passar como uma pós-via crucis.
Sinceramente, não sei se sobreviverei a essa pressão. Porque tenho a ligeira impressão de que todos os outros alunos sentem-se constrangidos, imbecilizados e o que é pior: obrigados a questionar! Seja lá o que for…nem que seja uma pérola tipo: “_Professor, como é mesmo o nome desta cadeira que estamos pagando?”… Não basta ser aluno. Tem que participar! Precisamos nos sentir participativos.
Eu, normalmente entediada, começo a entrar numa depressão profunda sempre que vejo a assídua aluna adentrar a sala de aula. Quando isso acontece, imediatamente sinto o mal estar instalando-se pelos quatro cantos do recinto. A moça é uma verdadeira metralhadora de questionamentos, embasada em amplo (ou vasto) ‘desconhecimento’ ou cultura inútil, que sempre me remete àquela frase: “uma mentira contada repetidas vezes torna-se uma irremediável verdade”. E aí, esta pessoa começa a se configurar na pessoa mais inteligente do planeta! Isso é, no mínimo, perigoso. É uma palpável inversão de valores. E vejo que todos os outros alunos da sala, que pensavam ter pelo menos um nível de quociente de inteligência mediano, encolhem-se e começam um ritual de auto-análise (freudiana, junguiana, ou qualquer outra escola da psique humana) que sempre nos faz sair arrasados de cada maldita aula.
Estou quase chegando à conclusão de que a inteligência burra é a que convence. Mesmo assim, prefiro ser – humildemente – uma burra um pouco inteligente!