quarta-feira, 28 de abril de 2010

Toda mulher morre aos 40 (ou parte dela)!

Fiquem calmas, mulheres e lobas do Brasil! O título é meio estranho, mas logo todas vocês entenderão.
Ser mulher é ótimo, mas não é brincadeira. Mulher menstrua, sente cólicas horríveis, tem TPM (quantos relacionamentos não findaram por causa dessas três letrinhas infames?), fica grávida, engorda mais do que deveria e com isso, ganha estrias. Celulite, nem se conta, porque faz parte da verdadeira mulher, como se viesse no DNA. Ou vem? Ainda tem os enjôos, as azias, e finalmente, o bebê. Lindo, fofo! Ele é o bônus. Já o ônus...mais celulites, peito arriado, noites inteiras acordadas, cólicas, fome, insônia (bebê também tem insônia, só que ele acorda a mãe, o papai fica dormindo), entre tantas outras alegrias da maternidade.
Quando passa essa etapa da vida da gente, tudo é bom! É o relacionamento que virou família, é ver o filho crescendo, a primeira palavra, a primeira aula, o primeiro dente, a primeira risada, o primeiro tombo, os primeiros pontos (toda criança cai e vai bater numa emergência de hospital), é o idílio! Os filhos vão crescendo e a mãe acompanha as lições de casa, ensina a lavar as mãos, escovar os dentes, a dizer, ”por favor”, “obrigada”, “me desculpe”, e tudo é lindo. A vida é linda, ser mãe é o máximo. “Só a mulher tem a soberania sobre a gravidez”, eu já ouvi isso de uma mulher. Detalhe: ela disse super orgulhosa de ser obrigada a carregar uma barriga que lá pros sete meses, a gente fica sem saber se dorme ou fica acordada, por falta de posição na cama. Viramos tartarugas. Mas as tartarugas mais felizes do uninverso! Vamos ter um filho!
Quando a mulher tem seus filhos ainda novinha, ótimo. (Se não é o seu caso, você é uma mãe-avó, mas tudo bem.) Porque ela sempre vai receber um elogio tipo “namorado novo” ou vai ouvir a célebre frase: “nossa! Parecem irmãos!” (ouço muito isso. Aliás, já ouvi os dois). Aí é a nossa redenção! Quem não quer ser a mãe gata do amigo do colégio?
Nessa fase ainda temos gás para malhar, deixar o filho no colégio, ir trabalhar, voltar pra pegar o filho na aula de jiu-jítsu, karatê, judô, balé, natação, inglês, patinação, jogos escolares, e ainda chegamos em casa com tudo em cima, inclusive a vontade de tomar aquela ducha pra esperar o maridão! Opa! Nem sempre há um maridão esperando por nós...
Tendências naturais dos seres humanos, demonstram que o “felizes para sempre” e o “até que a morte vos separe”, dito pelo padre, pastor, juiz de paz, rabino, etc., é pura obrigação. Eles falam porque está o script! Mas eles têm certeza de que é mentira. E como na vida tudo é efêmero, os casamentos também acabam. E os filhos, geralmente, ficam com as mães. Até aí, beleza.
Nessas alturas, a mãe já está na faixa dos 35 anos e animadíssima à espera da Idade da Loba! Toda mulher quer chegar aos 40, porque toda bibliografia moderna voltada para esse assunto demonstra que mulheres, depois dos 40, são mais felizes, encontram sua alma gêmea, obtêm sucesso no trabalho, enriquecem, enfim, os 40 anos é um marco. A pedra fundamental para a construção do futuro feminino. Seguro e pleno!
Enquanto isso, o filho já está na faculdade e é motivo para mais orgulho. Ele se forma, você já se divorciou, está livre, e finalmente, chega aos 40! Quando lhe perguntam a idade, você responde altiva: eu tenho 40! Nessa época a loba se solta, os cordeiros aparecem, e tudo é uma festa.
No ano seguinte, você já não tem mais vontade de dizer sua idade. Pra quê? Um dado deste teor é totalmente desinteressante. O que importa é a aparência, se ela é antenada, o que conta é a juventude do espírito (pouca gente acredita em Espiritismo, mas utiliza-se muito desse recurso), a independência, a cabeça boa, a bagagem profissional, a superioridade intelectual, o papo interessante, etc. Ah! Nessas alturas, celulites e estrias são ‘parte da história de uma vida’ (essa é dos homens), e nada disso é relevante.
Quando a mulher é inteligente e faz check up todos os anos, ela começa a descobrir novas companheiras com as quais ela jamais pensou conviver: menopausa precoce, hipotireoidismo, hipertireoidismo, osteopenia, pressão alta, alergias das mais variadas, dores que nunca havia conhecido, e a lista é enorme. Nem me peça pra listar! Mas não podemos deixar de citar a depressão, a síndrome do pânico e a necessidade de uma boa terapeuta.
E aí, nos anos seguintes você, que é uma mulher interessante, continuará sendo objeto de desejo de alguns homens ou mulheres. Mas, na hora do ‘se conhecer’, sempre vem aquela perguntinha desagradável e inoportuna: “Desculpa perguntar, mas qual a sua idade?” (se já começou pedindo desculpas, não deveria sequer terminar!). E independente da sua idade, da sua condição, da sua vida, da quantidade do seu QI, você vai responder com a maior segurança do mundo: “Eu tenho 40, e você?” (Cassia Miranda)

Insônia

É madrugada. Quase manhã. Preciso fugir dessa insônia que me persegue desde pequena.
Nada pode ser pior do que a solidão não desejada. O barulho do silêncio grita em meus ouvidos surdos.
Eu não sei se sou uma boa pessoa. Não sei se um dia serei alguém perto da perfeição, nem se saberei perdoar. Deus, seja ele quem for para você e para mim, não me dá muito tempo para pensar nele.
Penso muito na perfeição das pessoas que me rodeiam. Fico alegre e me entristeço por não conseguir ser melhor.
Minha cabeça é um turbilhão de pensamentos insanos e difíceis de esquecer. Lembro muito das coisas ruins que já vivi, das tragédias do mundo, dos pesadelos (quando me lembro deles), das perdas e da saudade. Sou uma pessoa impregnada de saudade e solidão.
Não sei mais onde elas ficam (a saudade e a solidão), mas sei que penso nelas por todas as horas do meu dia. Penso em tanta coisa! Tantas coisas que perdi por ter me perdido no caminho. Ou me perdi dentro de mim, de tanto pensar?
A solidão é meu acessório. Levo para onde vou e, mesmo cercada de tanta gente, continuo só. Será que sou egoísta? Ou só faço assim pra me proteger? Não é fácil construir uma vida inteira de sentimentos de falência.
O barulho do silêncio me lembra que estou sem rumo. Perdi o caminho do sono. E talvez tenha perdido o meu próprio caminho. O barulho, na verdade, me atrapalha. Porque me dispersa e me leva pra longe. Mesmo sem que eu queira ir.
A cidade está escura. Todos os prédios apagados, nenhuma pessoa na rua sequer, e eu aqui. Cheia de ausência de sono, e sem querer pensar profundamente. A superfície do meu pensamento me ajuda a não entristecer. E meu pensamento confuso é cheio de imagens boas, ruins e nenhuma voz.
Somos mudos. Meus sonhos, o espaço da minha casa, e eu. Acabei de concluir que não tenho testemunhas. Nem para me ver dançar, nem para me ver partir. Quem me dará adeus?
O dia já vai amanhecer... (Cassia Miranda)

terça-feira, 13 de abril de 2010

Um guerrilheiro em minha vida

Eu conheço um “guerrilheiro”. Ele é inteligente, bonito, simpatizante da causa cubana, culto, charmoso e a melhor de todas as qualidades: gostoso, muito gostoso. Sabe quando a gente sente que existe uma química, que existe uma atração, mas evita, se segura, porque sabe no que vai dar? É. Vai dar tudo de bom que você está pensando. Vai acordar o vulcão.
E o mais gostoso dessa história é observar como ele vai se chegando. Mesmo por e-mail, parece um gato, manhoso, fofo, se esgueirando pela perna, passando pela barriga, pelos braços, pelo peito, pescoço e boca. Quando eu vejo, já estou totalmente envolvida e totalmente interessada em pular do computador diretamente para a cama.
Depois de trinta e dois e-mails trocados, recebi um que dizia assim: “A vida é um combate! E a guerrilha é feita de ataques surpresa. Mas nem sempre é tão surpresa assim. Uma boa emboscada e.. . BINGO! Já era. O inimigo vai pro cativeiro e sofre todas as torturas e vontades do seu dominador”. Estão todos entendendo? O inimigo em questão sou eu! E já estou aqui imaginando as torturas que, aliás, serão completamente bem recebidas!
Uma coisa eu tenho que admitir: ele é uma pessoa linda, portanto irresistível. Essa deve ser uma das vantagens das mulheres independentes. É, porque viver sozinha tem que ter alguma vantagem, eu estou tentando descobrir qual é! Você escolhe roupa, cor do carro, suas visitas, amigos e, claro, o homem com quem você vai sair! E isso requer um trabalho imenso. Não dá pra sair com qualquer pessoa. E tem que sair como amigo, pois com inimigo é impossível, com desconhecido, um perigo. Eu tenho amigos que adoro, mas que não podem passar da mesa do bar. De jeito nenhum! E os motivos são tantos que nem vou enumerar. Dá preguiça. Mas o maior dos defeitos é: ser casado. A vida já é muito complicada. E de complicação estou fugindo. Eu só quero me divertir!
Depois de trinta e cinco e-mails resolvemos nos encontrar amanhã mesmo! Não vai rolar guerrilha, mas uma grande movimentação a favor do amor e da paz.
Viva la revolución!!! (Cassia Miranda)

domingo, 11 de abril de 2010

Ansiedade Feminina*

Várias doses de Martini.
Muito calor, mais um banho.
Nua, com o ar condicionado ligado.
Música alta (Cole Porter). Só dois cigarros de canela. Que bom!
Camarões. Muito bons.
Penso em meu pai. Ele é TUDO!
Acho que vou tomar mais um Martini e ouvir todos os CDs que gosto.
Saudades do meu amigo Jorge. Liguei. Não atende. Deve estar num bar barulhento, numa boate ou transando com o namorado. Jorge consegue ser feliz. Os homens também.
Os síndicos são muito felizes. Mas eles não existem. Eles “estão” e depois passa.
Cadê meu microchip?
Deve estar jogando charme ou agarrando uma “burguesinha”. Daquelas que passam pancake, muita sombra, e parece que têm os poros obstruídos, pois não suam nunca!
Mesmo depois de pensar tudo isso, sinto saudades do meu síndico. Minha cama é enorme.
Dormir sozinha é bom, mas é melhor dormir com ele. Gosto quando passa o braço por cima de mim de manhã e faz “conchinha”. Adoro!
Mais um Martini? Tá, só mais um.
Não estou mais conseguindo programar o som. Mau sinal...já estou trocando as letras também. E escrevendo um pouco torto. Bobagem! Amanhã dou um mergulho e a água do mar leva tudo.
Será que vou ficar de ressaca? Acho que vou ligar pro Jorge...não atendeu novamente. Garanto que está brigando porque o namorado não quer que ele atenda os números de Recife. Ciúmes!
Acho que vou à Brasília na Semana Santa. Só pra estressar essa “bi” ciumenta!
Mais um cigarro de canela. O último!
Mensagem de celular para o meu síndico, que não vai ler porque está beijando aquela mulher, a do pancake. Vai fazer aquela cara séria e desligar o telefone! Que ódio!
Acho que vou escrever um livro. Já comecei, mas tenho que terminar. O Martini já está ficando ruim...
“Pára de escrever, égua!” – o Jorge ia dizer, se estivesse aqui!
Amanhã vou à praia. Mesmo ‘“sujeita a pancadas de chuvas esparsas”. Meu síndico me fez entender que realmente todas as previsões do tempo são iguais. E quando as chuvas são “esparsas”, o sol é muito forte e o céu, muito azul! ...vou comer a cereja e deixar o resto do Martini.
O Bruno deve estar enlouquecendo na formatura. Já deve ter tirado o smoking e está dançando em cima das mesas. Vou saber de tudo na segunda. Ele vai me contar e vamos rir horrores!
Cigarro de canela enjoa. Se fosse de chocolate já teria comido! Lembrei daqueles chocolates em formato de cigarro que a gente comia quando éramos pequenos. Era tão bom!
Cheguei à conclusão que os cigarros de canela são péssimos. Devem ser legais pra parar de fumar.
Última cereja da noite. Pronto e ponto! Vou comer um chocolate. Estou carente.(Cassia Miranda)

*24/02/2002 (já é dia seguinte)

sexta-feira, 2 de abril de 2010

A vida é uma festa!

Festas. No Brasil são muitas. Muitas mesmo. Além das que não contam no calendário, existem as oficiais: Carnaval, Páscoa, Dia das Mães, São João, Dia das Crianças, dos Pais, da Avó, Natal, Réveillon... ufa! (desculpem-me se esqueci alguma delas, pois são tantas, que meu arquivo já não comporta). Enfim, as festas geralmente são para reunir a família e fazer – em um dia – o que não se fez em uma vida: interagir com felicidade plena. Na verdade estou falando de mim, que sou ranzinza de nascença. Porém quando escrevemos sobre nós mesmos, sempre corremos o risco de ser o espelho de algum leitor desprevenido ou ranzinza desavisado.
O que quero dizer é que essa eterna festa me cansa muito. Não tenho humor para isso. Acho que perdi o ritmo. Nem tanto assunto para partilhar sem que – mesmo sem propósito – ocorra uma ácida ironia. Aí se faz o silêncio de um segundo, profundo segundo, que faz de mim a pessoa mais deplorável da reunião familiar.
Aliás, ainda não entendi o motivo de ser tão convidada. Eu não me convidaria. Não consigo ser agradável nesses festejos. Sinto-me fora do contexto. Observo cada palavra trocada ou não dita. E quer saber? É melhor não me perguntar...porque eu vou responder!
Já houve tempo em que essas festinhas me eram mais prazerosas. Mas sempre senti uma tensão iminente no ar. Fazer o quê, se meus olhos enxergam o lado A das pessoas, enquanto elas se esforçam para demonstrar sempre o lado B (o da falsa felicidade, da hipocrisia, da eterna alegria).
Às vezes me pergunto: será que só eu sou chata? Será que é verdade que TODAS as pessoas ao meu redor são felizes? Será que NINGUÉM além de mim traz tristezas profundas no coração? Será que o único fundo do poço abissal é o meu? Será que só eu não sei fingir?
Sabe de uma coisa? Resolvi não entrar nesse mérito. Ia ter que falar sozinha, por isso eu escrevo! Mas vou ter que dar um jeito nesse meu ângulo de visão da vida para poder conviver com as festinhas. Na verdade, existem muitos caminhos: ou param de me convidar (eu juro que não vou ficar sentida), ou faço parte da festa no modo “corpo presente”, ou vou como expectadora (rezando pra ninguém me perguntar nada), ou melhor, na próxima festa vou amordaçada! (Cassia Miranda)