*Para o meu melhor amigo. Não preciso dizer quem é. Ele sabe. Isso é o que importa.

O que a gente faz com as lembranças que já se foram? As guarda no coração e não as esquece jamais. E com as lembranças vivas? Fingimos que esquecemos? E se ela for quase palpável? E se ela se fizer sempre presente? Isso é bom. Não quero perder esse fio de sentimento que ainda ficou entre nós. É uma conexão nossa.
Mas existe o outro lado da moeda. A outra versão da história. Já fomos um. Agora somos vários, mas sem nos esquecer. Eu entendo que o amor não é só um sentimento, mas uma habilidade que desenvolvemos com o tempo, ou não. Quem não tem vocação para o amor, não adianta viver mil anos.
Talvez fosse mais fácil ter nascido sem este dom, de amar. Porque em mim, tudo é dramaticamente exagerado e meu amor segue o mesmo rumo. Ele é ousado, avassalador, descarado, completamente apaixonado. Ele é entregue, viro refém, quero me jogar da ponte, cortar os pulsos, quero morrer de tanto amor.
Mas volto ao início. O que faço com você? Fico só amiguinha e escondo dos outros os que você já sabe? A gente se encontra de vez em quando pra conversar sobre filhos, relacionamentos e condenação à prisão perpétua?
A gente pode também somente rir das partes engraçadas bebendo um bom vinho branco ou um Martini com cerejas (que eu amo). E aí, depois de um abraço fraterno, cada qual segue seu caminho, cumpre seu destino, seu carma, sua sina, sua vida sem graça…ou não. Pode ser que haja graça em barulho de criança! Talvez eu não tenha desenvolvido essa habilidade. Mas isso é opção, viu?
Na verdade, me orgulho do homem de família que você se tornou. Só sinto que essa família não inclua a mim, como sua adorável esposa! Mas é assim mesmo. Como você mesmo diz, convivi com seu lado atormentado, seu lado ranzinza. E eu podia morrer por você. Imagina se te conheço nessa nova fase “paizão-maridão-homem-de-família”! Melhor nem pensar nisso.
Sinto saudades. E ainda bem que somos amigos de verdade. E que podemos nos comunicar através dos teclados, das mensagens, do telefone. E viva a tecnologia!
Meu Deus, não me deixe morrer antes de conhecer a tecnologia do cheiro e do tato, através dos monitores, celulares. Eu sei que vai acontecer breve!
Engraçado, quando éramos mais jovens, você dizia que eu “gostava de casar”. E agora, o que lhe digo? Só tenho certeza de uma coisa: somos muito habilidosos! Que bom!
(C.M)