Hoje ainda procuro a origem dessa dor, mas a esta altura, já tenho uma noção das coisas. Sinto essa dor desde muito pequena. E lembro perfeitamente de dizer: ‘mãe estou sentindo uma coisa, uma dor, uma agonia, não sei explicar’. E ela, sempre muito paciente – é assim até hoje, tentava encontrar fisicamente uma dor que não era palpável. Porque não era dor física. Era dor espiritual. Eu só não entendia.
Isso foi fazendo de mim uma pessoa pouco risonha, pouco à vontade dentro de mim. A sensação é de que não sou eu, que vivo numa casa/casca errada, que sou visita que nunca quis vir, mas que agora está presa e não pode sair. Só quando a hora chegar. Isso cria uma ansiedade chata, uma vontade de apressar as coisas.
Tenho me sentido inútil, invisível. É como se eu tivesse morrido estando viva. Não estou sendo enxergada pelas pessoas que acho importantes. Ou talvez eu dê muito valor às pessoas que não merecem. Ou talvez eu não valorize as pessoas que realmente deveria.
Está tudo muito estranho. Muito automático na minha vida. E pra completar, meu humor não ajuda muito. Sou crítica, ácida, gosto de ficar sozinha (acompanhada, só quando tenho vontade), prefiro o silêncio, acho que estou sempre vendo a vida pelo avesso. Não sou otimista, detesto gente boazinha, e vejo tudo pelo dark side. Porque é assim que me sinto na vida. Desconfortável.
E por outro lado, sei que sou uma pessoa que poderia crescer tanto! É que sempre que estou muito bem, perco o meu objeto de desejo, o meu porto seguro, o meu referencial. O que acontece? Não sei, mas devo ter muitas contas pra pagar de vidas passadas. Eu simplesmente não consigo ser feliz. E quando vou ficando feliz, começo a sentir medo do que pode vir a acontecer.
Acordo e vou dormir tentando entender porque a morte me persegue desde tão pequena, mas nunca me escolhe. Ela fica de camarote, me vendo sofrer. Não quero viver sentindo saudade. Minha alma está cansada e dolorida demais. Passei tanto tempo buscando quem eu sou e ainda hoje me procuro.
Queria estar com o João agora. Lá onde ele está. Talvez as pessoas lembrassem que eu existi e que não fui invisível. Hoje estou péssima. Nem eu estou me agüentando. Acho melhor parar por aqui. Não gosto de ser instável. Prefiro ser uma chata estável, a viver entre ups and downs. Acho pessoas assim irritantes! E minha tolerância inexiste. Estou cansando de viver no piloto automático.
Foi com este humor que cheguei em casa após uma tarde inteira dentro de um shopping resolvendo coisas. Não agüento olhar aquelas pessoas tão felizes. Felicidade de quê? Qual é a graça de ver um monte de gente se batendo só para olhar coisas que nunca irão adquirir? Ai, que saco!
Dos Shoppings só se salvam as livrarias e a Kopenhagen. Pelo menos isso!