quarta-feira, 26 de maio de 2010

"Do meio"

Filhos de casais com três rebentos não sabem o que estão fazendo com a cabeça de um ser que ainda nem tem noção do que significa viver direito. Falo de cátedra, porque sou uma “filha do meio”!
No começo, você não entende muito bem, acha que é legal, estar entre dois irmãos, portanto, na cabeça da filha (o), ela (e) terá sempre com quem brincar. Quando ela (e) começa a entender mais a hierarquia das coisas, passa a prestar atenção às apresentações dos filhos pela sua genitora: “Esta aqui é Tati, a mais velha, esta é a Rosa, vê, que gracinha, tão pequena e tão esperta! E esta, é Regina, a do meio.” Aí é quando você começa a entender que sua personalidade não deve ser muito interessante, ou quem sabe, você sequer tem uma!
É muito normal e até cultural, que os primogênitos sejam bastante festejados, afinal, é a perpetuação da família, da raça, da espécie. “Minha família terá continuidade!”, bradam os pais de primeira viagem. O que não deixa de ser uma verdade, se o destino não for bandido com eles, e se a criança conseguir – no mundo de hoje – permanecer viva para estudar, trabalhar, casar e enfim, procriar, perpetuando assim, aquele sangue, aquele pedigree, aquela linhagem, ou qualquer outra classificação que a família e seu status queiram dar ou acham que merecem.
Depois vem o segundo filho. Esse já é barbada. “Já passei por tudo isso com o primeiro, agora não vou ter problemas. Até as roupinhas eu guardei pra ele!”. É isso mesmo. O segundo sempre herda do primeiro tudo que puder. E nem tem mais tanta graça assim. Já que os pais passaram pela primeira experiência tão dolorosa e desconhecida com louvor, obviamente, a segunda experiência já não vai ter mistério. Por exemplo: o segundo filho já não precisa de tanto paparicado (a), não precisa ser ninada (o) na cadeira de balanço (porque a sogra ou a mãe da mãe de segunda viagem ensinou que “basta deixá-los no berço, que eles ser resolvem sozinhos!”), tem um guarda-roupas lotado de roupinhas herdadas do irmão (ã), e “pode chorar que agora eu já sei quando é dor e quando é manha!” Até aí já se criou um ser, no mínimo, carente de atenção.
Mas, pelo acaso, destino ou programação, chega ao mundo o terceiro e derradeiro rebento. Ah, o terceiro! O terceiro é a caçula, a raspa do tacho, a coisa mais linda, uma gracinha! “E pensar que eu nem lembrava mais de como era cuidar de um bebê! Vou ter que reaprender!”, explica a mãe, tão orgulhosa quanto da primeira vez! E é tudo verdade! Ela já esqueceu como é paparicar um bebê, pois com o segundo, foi tudo muito fácil. “Estava tudo fresquinho na memória. Mas três anos depois?”
Então a caçula ganha tudo novo! É como se fosse a reencarnação do primeiro, entende? Roupinhas, brinquedos, amassos, beijos, abraços, enfim, contornado o ciúme do primeiro, o segundo automaticamente entende que não é para sentir ciúmes e fica tudo bem. Tudo bem para a caçulinha, que passa a ser a atração principal da casa. Tudo é para ela, todas as atenções, cuidados e carinhos, afinal, ela é a menininha pequenininha, a bebezinha da família!

Nessas alturas, a primeira (o) já é madura (o) o suficiente para entender, pois teve tanta atenção que já está seguro (a) de que seus pais o (a) amam de verdade! E a (o) do meio? Que nem resolveu sua carência em relação ao segundo? Bom, a (o) segundo, a (o) “do meio”, continua carente e chato! Porque ele precisa chamar atenção para si de qualquer forma e a todo custo. Por isso muitas crianças que ficaram entre dois irmãos são, na maioria das vezes, tão chatos, desagradáveis, provocativos, irônicos, críticos, entre outras coisinhas mais. Eles precisam, eles querem saber qual o seu lugar nessa hierarquia tão complicada para a cabeça de uma criança.
Mas a vida passa e é tão rápido, que as pessoas vão convivendo com aquele ser tão diferente dos irmãos (ãs) normalmente, porque o ser humano se acostuma com tudo. Com miséria, com dor, com alegria e com carência. O que resta ao filho do meio? Tentar ser o melhor. Caso ele não consiga (de verdade, ou apenas dentro da sua cabecinha de criança), ele será um adulto com todas aquelas qualidades distorcidas que já citei e, além de uma pessoa muito difícil, será um paciente em potencial para qualquer psiquiatra e afins.
As mães precisam entender que não é condição obrigatória amar todos em igual intensidade. A tendência do ser humano é ter preferências, é escolher. Mesmo que de forma velada. Porque é humano e as mães são humanas. Por isso, e com medo de ser obrigada a ter um segundo e, talvez, um quarto filho, preferi ficar no primeiro. Podendo evitar, não tenha um “do meio”! Dois ou quatro são as fórmulas perfeitas (pra quem pode dar o melhor, igualmente, a todos). Do contrário, nem posso imaginar as criaturas que serão criadas nessa lacuna, entre dois amores!
(Cassia Miranda)

6 Comentários:

Marlos Magalhães Porto disse...

Não tinha pensado nessa peculiaridade do "filho do meio"... Acho que você descreveu bem os pensamentos e sensações que devem povoar a mente de quem se encontra nessa posição. Mas acho que isso deve ter a ver também com o gênero da criança. Por exemplo, se o do meio for um menino, entre duas meninas, ele terá um diferencial maior, uma atenção maior, ou uma menina entre dois meninos, do que um menino ou menina "do meio" que tem também um irmão ou irmã do mesmo gênero. Mas acho que, a depender do carinho que os pais trasmitam, e do diálogo existente entre eles, o(a) filho(a)do meio pode não se sentir escanteado(a).
A propósito, na minha casa, são seis, primeiro vieram as meninas, e depois os meninos. Sou o sexto.
Abraço!
Marlos.

Blog da Tita disse...

ahhhhhhhhhhh! Vc é o caçula!!!! Tá explicado! rsrsrs
Qto ao gênero, não acho que mude a percepção da criança. Ela, independente do sexo, ESTÁ naquela posição.
Claro q os pais geralmente não fazem diferença entre os filhos. Os meus também não fizeram. Mas será que existe isso? Será que lá no fundo, não existe uma preferência? Acho humano. E se tivesse mais de um filho, certamente teria o meu predileto! Valeu, meu amigo!

Anônimo disse...

KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
SOU CAÇULA E PARECE QUE TO LENDO A MINHA IRMÁ DO MEIO FALAR, DESCULPE, MAS PARECE QUE VCS NÁO ENTENDEM QUE EXISTEM COISAS E PAPEIS INTRANSFERÍVEIS, A DIFERENÇA É QUE VCS OU SÁO COME QUIETAS OU TENTAM FAZER DE CONTA QUE NÁO ESTÁO NEM AÍ....MAS, SE TE CONSOLA, CAÇULA É SEMPRE CAFÉ COM LEITE, E A GENTE SABE QUANDO ESTA BRINCANDO OU NÁO...SOMOS PEQUENOS, NEM DOIDOS, NEM SURDOS!!!!, QUANDO QUEBRA ALGO TODO MUNDO OLHA LOGO PARA O CAÇULA, O CARA PODE ATÉ FAZER CERTO, MAS COMO É CAÇULA TEM UMA MÁ FAMA...SÓ EXISTE UMA COISA NO PAPEL DOS MAIS PEQUENOS QUE EU NÁO TROCARIA POR NENHUMA POSIÇÁO, COMO OS PAIS JÁ ESTÁO CANSADOS DE TANTA REGRA,COM O CAÇULA JÁ RELAXAM, É FIM DE RAMO MESMO...RISOS
E COMO OS MAIS VELHOS TENTARAM QUEBRAR AS LEIS E OS DO MEIO PEGARAM CARONA, OS CAÇULAS APROVEITAM E NA CARA DE PAU DIZEM EU PREFIRO ASSIM, OU ENTÁO SÁO DO TIPO..BEM QUE SUA MAMÁE FALOU, MAS O CAÇULA NUNCA PRESTA ATENÇÁO, MESMO E VAI FAZENDO O QUE TEM VONTADE, SE PRECISO ATÉ PREGAM UMA MENTIRINHA!!!!

BJS DE UMA CAÇULA,
PATY CASSEMIRO-BARCELONA

Blog da Tita disse...

Paty, tu só podia ser a caçula mesmo! kkkkkkkk
Já notou que só os caçulas resolveram fazer seus comentários???
Num to falando! Os caçulas e os primeiros sempre levam a melhor!
bjão

Nanda disse...

Oi Tita, bem... eu não tenho esse tipo de problema, sou filha única ^^ (minha mãe por ser a segunda filha, deve ter pensado nessa possibilidade), mas uma coisa vc tem que saber, eu tenho uma "tese" por observação, tres dos meus tios tem tres filhos do mesmo sexo, além de amigos e afins... acontesse que em todos os casos os do meio são os mais bonitos! talvez seja algum charme pelas confissões mentais, mas enfim, são os mais bonitos e ponto. Espero que isso te console =)
beijo

Blog da Tita disse...

Owww Nanda! Vc é uma fofa! Mas escrevi uma constatação q percebi ao longo da vida. Não na minha casa apenas, mas nas casas dos amigos e das pessoas q têm mais de um filho! Vc e meu filho são dois sortudos! Serão sempre os bebês da gente! bjão