
Não, não me invejes. O luar do Sertão, inspiração dos mais simples aos mais nobres poetas, foi apenas um referencial, o qual a sociedade reportou ao romantismo ou ao amor romântico”. Nada mais que uma ferramenta de trabalho dos 'arquitetos' das palavras. Nem sempre há amor em palavras bonitas. Apenas inspiração, ou um talento para o jogo delas (as palavras).
Portanto não me invejes! Como lhe falei em outra dessas tantas 'alucinações literárias', se é que posso chamá-las assim, você foi apenas um gatilho para minha imaginação, que anda um pouco estagnada por causa desse ritmo frenético de trabalho.
Amanheceu no Sertão e, engraçado, não ouvi sons de passarinhos, como ouço todos os dias, na janela do meu quarto, no meio de um bairro - imprensado pelo pseudo-glamour de Boa Viagem e a decadência-verdade de Piedade - Setúbal.
Descobri que até os passarinhos sertanejos perderam suas poesias e migraram atrás de paragens mais urbanas e menos provincianas. A vanguarda e o desenvolvimento seduzem até mesmo as aves.
Deve ser bom me ler. Melhor ainda deve ser 'me receber' por e-mail! Penso que, se eu fosse a fonte de inspiração de um homem, eu seria menos animalesca, pensaria - além da transpiração e da ação - até com um certo orgulho, por ter a 'capacidade de inspirar' e reacender um talento que estava praticamente esquecido e fechado numa dessas gavetas da alma. Dessas, que a gente guarda pensando em nunca mais abrir, porque a vida simplesmente não nos dá chance. Infelizmente, nesse país continental, nesse grande barco sem leme em que vivemos, não se paga conta com talento!
Quanto a sua preocupação no que diz respeito a sua única e tão masculina forma de ver as coisas mais poéticas da vida, quê dizer, se não apenas calar? Talvez esse seja o erro do 'feminino'. Procurar - ou tentar - achar poesia em tudo e, através das almas alheias, tentar reproduzir um pouco das próprias.
Não me leve tão a sério! Somos produtos, também de "mentiras sinceras", como disse em certa letra de uma de suas músicas, o grande e contemporâneo poeta Cazuza.
Estou muito cansada. Vou voltar a dormir e tentar captar das suas palavras, apenas o medo do desconhecido. E não uma tão simplória e genuína prova de que a sensibilidade masculina ainda está a alguns bons centímetros abaixo do cérebro!
Meus olhos teimam em fechar. Preciso aproveitar esse raro momento de trégua.
Boa e longa vida pautada na razão! Lucidez é um defeito que as almas poéticas - definitivamente - não o têm!
Realmente, não consigo manter-me acordada!
Dia bom pra você!